segunda-feira, 20 de junho de 2011

Na Opacidade do Céu Vejo Ainda a Derradeira Andorinha.

Na opacidade do céu vejo ainda a derradeira andorinha.

Voa só e tímida, como quem perdeu comboio, e fica no cais,
sem nada saber além de que perdeu. Irá a Sul como eu,
quando lhe sobrar vontade e lhe restar frio.
Uma pomba arrulha no telhado, também confusa.
Era já de arrepiar este dia, mas não,
ficam uns belos vinte e cinco graus às doze,
que agora são onze, que mudou a hora,
e estamos todos um pouco tontos e solares.
Eu a andorinha e a pomba.
Aqui nestas águas furtadas,
de trapeira redonda e janela basculante,
passo os meus dias também no céu,
três andares acima das ruas. Daí o sentir-me
algo pássaro, de voo que apesar de baixo é voo,
de pio que apesar de mudo diz. Eu a andorinha e a pomba,
que entretanto se calou, somos, neste telhado,
uma trindade moderna: a andorinha espírito santo inspirador;
a pomba voz de deus;
eu olhando da trapeira filho aqui
posto para testemunhar presenças.
Assim, e pela santidade do dia,
escrevo a linha testamento, nem velho,
nem novo, apenas hoje.
E fico enclausurado na trapeira a ver o
mundo redondo como afinal ele é, esperando
serenamente o frio que virá inexoravelmente.
Vai restar a memória da asa negra, a voz da pomba
cinza e as letras, incolores, essas que não desistem
de se escreverem umas às outras.

domingo, 5 de junho de 2011

Por que Devemos Honrar Nossos pais?

Que base os pais têm para que os filhos sejam obrigados a tratá-los com honra? Não estamos pergutando o que um pai tem que fazer para merecer o direito de ser honrado. Os pais têm um direito natural de receber honra simplesmente porque conceberam e cuidaram de um filho. O dever do filho pressupõe o direito do pai, mas, porquê?



Eliminemos primeiramente algumas razões plausíveis, mas equivocadas, que fazem da honra um dever do filho. Primeiro, está a mística do sangue. O sentido judaico-cristão do dever filial não se baseia sobre o rito consanguínio da transição, na experiência do nascimento. Algumas pessoas poderão sentir uma sensação de reverência com os seus antecedentes que canalizaram o sangue da vida que há neles para formar uma família, passada e futura. Mas, o que está por trás do dever da honra não é a mística do sangue, senão a opção moral, não num sentido de reverência, mas numa vontade de manter a ordem familiar.
O dever de honrar os pais tão pouco é conseqüência da pecaminosidade do filho. Os filhos não são mais pecaminosos do que os pais, e deixar um menino em liberdade não é mais arriscado do que dar autoridade a um pai. Se as famílias existissem num mundo perfeito, sem dúvida os pais ainda assim estariam encarregados dos filhos, mesmo que estes fossem perfeitos. O dever da honra, como a maioria das obrigações primárias, não está arraigado na natureza pecaminosa do menino, mas no propósito divino para a família divina.
Em terceiro lugar, não devemos a honra aos nossos pais em gratidão pelo que por nós fizeram. Provavelmente a maioria de nós sente muita gratidão pelos seus pais, ainda que muitos outros acumulam ressentimentos pelas graves faltas que cometeram. Onde abunda a gratidão, também há um poderoso motivo para obedecer ao mandamento, mas esta não pode ser a razão básica, pela qual Deus a proclamou. A razão do mandamento tem que estar no tecido da família, na função de que os pais devem desempenhar no crescimento e criação dos filhos.
Se existe alguma razão pela qual os pais têm um direito ao respeito da parte dos seus filhos, sugiro que é da autoridade. Na pequena sociedade chamada família, em que se experimentam intimidades humanas prazeirosas e penosas pertencentes à relação humana fundamental, uma das fortes fibras que mantêm unida a aliança é a autoridade dos pais. Atualmente a autoridade não é uma faceta muito popular da vida familiar, e incontáveis lares abandonaram deliberadamente, confundindo a autoridade com uma espécie de tirania a que todos os que respeitam os direitos da criança devem destruir. Não obstante, vou argumentar que a autoridade paterna, corretamente entendida, é essa qualidade que todos os pais têm e que corresponde a honra que os filhos devem tributar-lhes. A autoridade é a coluna vertebral da vida familiar. É tão importante para a força da comunidade humana que o Senhor Deus, num dos cinco mandamentos fundamentais para a vida, nos chamou a honrar os nossos pais devido ao chamado que tinham de criar-nos e guiar-nos, enquanto seus filhos, sob o seu cuidado.

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